Ajuda
Cresce a demanda por acompanhamento psicológico entre universitários
Devido à grande procura, espera para consultas com a equipe de psicólogos da UFPel pode demorar até dois anos
Infocenter -
Para muitos estudantes a universidade pode representar um fardo maior do que é possível suportar. A demanda por atendimento psicológico na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) tem crescido cada vez mais nos últimos anos. Dentre os problemas relatados figura a solidão, a difícil adaptação às obrigações e ao ambiente acadêmico, além de dificuldades financeiras. Aliado à fila de espera para o acompanhamento disponibilizado pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), que pode variar de meses até anos, o cenário não é favorável a quem procura ajuda.
O debate foi acendido nas redes sociais pela Frente Universitária de Saúde Mental da USP, que através de uma campanha procura afirmar que não é normal, por exemplo, desenvolver insônia ou dormir menos de cinco horas por dia por causa da faculdade. Por aqui, os estudantes da UFPel tendem a procurar ajuda quando encontram dilemas como estes. O problema é que o atendimento psicológico é prioritário àqueles que recebem auxílios de assistência estudantil; parcela que equivale a 26% de alunos da instituição. A lista de espera já conta com 150 assinaturas, fazendo com que graduandos esperem até dois anos para a primeira consulta.
A chefe do Núcleo Psicopedagógico de Apoio ao Discente (Nupadi) da UFPel, Lisandra Berni Osório, é psicóloga da instituição desde 2010 e conta que os casos chegam cada vez com maior frequência. "Percebo um aumento tanto na demanda por atendimento psicológico quanto na gravidade dos casos dos estudantes. Quadros de ansiedade e depressão, transtornos de personalidade e risco de suicídio crescem dia a dia. Recentemente alguns professores receberam cartas de suicídio de seus alunos", conta a psicóloga, admitindo que o núcleo não tem estrutura suficiente para dar vazão ao tamanho e à intensidade das necessidades apresentadas. São 90 alunos tratados por uma equipe de apenas dois psicólogos e dez estagiários.
A família de Tuany da Cunha Vergara, 21, estudante do 9º semestre de Engenharia Hídrica, já possui histórico de depressão. O quadro motivou a aluna a procurar a terapia logo quando entrou na faculdade, em 2013. Mas ela só foi chamada para consultar no final de 2015, dois anos depois. "Nesse meio-tempo rodei em uma cadeira várias vezes, por não conseguir enfrentar as aulas", relata. Após o fim do acompanhamento psicológico, que dura um ano, Tuany afirma se sentir mais confiante para concluir a graduação. "Hoje consigo me controlar melhor e não fico em recuperação naquela disciplina", conta.
Já a estudante de Letras Deise Grellert, 21, procurou pelo acompanhamento em fevereiro e até agora não obteve resposta. O mesmo com Joélha Santos Carvalho, 20, que cursa o terceiro semestre de Economia. Ela é natural de São Paulo e também procurou por ajuda. Apesar de ser contemplada pelo Programa Bolsa Permanência e ter prioridade na fila, ela aguarda a primeira consulta há quatro meses. "Segundo o atendente, devem surgir novas vagas em setembro", diz. Resta esperar.
De acordo com a psicóloga, a preocupação com alunos com quadros graves e com risco de suicídio fez o Núcleo pensar em uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV) para a criação de um programa de prevenção - e o projeto está em estudo. "Ao mesmo tempo, o aluno universitário também é um cidadão pelotense. Precisamos desenhar mais fortemente nossos vínculos com a rede pública de saúde da cidade", argumenta.
Na UCPel
Já a Universidade Católica de Pelotas (UCPel), por contar com número menor de estudantes, não apresenta demora no atendimento psicológico. Aquele que necessita de apoio faz uma inscrição pelo site da UCPel e costuma ser chamado na mesma semana para a primeira consulta. A psicóloga do Núcleo de Apoio ao Estudante, Anelise César Lopes Neves, conta que todos os tipos de problemas chegam até a unidade. Relacionamentos, família, adaptação à cidade e vida universitária são os principais temas tratados. No último semestre foram cerca de cem alunos atendidos, segundo a psicóloga.
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